Arquivos Mensais:fevereiro 2013

O Envelhecimento do Brasileiro nas Redes Sociais

 

O maior valor que as redes sociais trazem para qualquer pessoa é o acesso ao que Bourdieu (1986) chama de capital social. E capital social tem funções importantes na vida: acesso a informação, oportunidades, socialização, emprego e muitos outros etceteras.

De certa forma as pessoas menos familiarizadas com a tecnologia podem perder oportunidades interessantes pelo menor acesso às redes sociais digitais ou mesmo às mídias sociais. Quanto mais laços (fracos), maior o acesso a recursos e quanto mais pessoas (de redes distintas) alguém tiver em sua rede, maior será seu capital social (Granovetter, 1973).

No Brasil a faixa etária do internauta tem se alterado nos últimos anos, como mostra um estudo divulgado no final de 2011 pelo ComScore1. E o envelhecimento da população digital brasileira irá se manter, tanto pelo fator comportamental (a maior adoção do uso de tecnologias pelos mais velhos) quanto pelo fator demográfico (pessoas com mais de 60 anos são o público que mais cresce na pirâmide demográfica brasileira).

Nos EUA ocorre o mesmo: a faixa etária que mais cresce como usuários de mídias sociais é a de pessoas com mais de 65 anos de idade. Eles foram os late adopters, mas são muitos…

No Brasil segundo o vice presidente de crescimento do Facebook, 1 em 4 dos novos usuários em 2012 foram pessoas com mais de 55 anos. Apesar de ainda não utilizarem as redes sociais com a mesma intensidade de pessoas mais jovens, segundo o ComScore, eles são os que mais cresceram em termos de volume de horas navegadas em redes sociais: hoje as pessoas com mais de 55 anos de idade só navegam menos horas do que os muito jovens, pessoas de 15 a 24 anos.

O comportamento dos mais velhos nas redes sociais parece ser distinto. Há formatos de linguagem popularizados na cibercultura, como o do remix (ex: mashups), que soam estranhos para eles. Já a comunicação por hiperlinks, tão comum nos nativos de 14 anos, parece ter sido completamente adotada.

Aspectos de auto expressão nem sempre se assemelham. O hábito generalizado de postar fotos para gerar impressões alguns deles também possuem, ainda que outros estranhem e rejeitem o excesso de exposição pessoal que para os mais jovens virou uma norma social relativamente aceita.

O uso de mídias sociais pelos mais velhos tem sido também fator de inclusão social2. Com quem eles aprendem a usar essas ferramentas? Muitas vezes com os mais jovens, em uma dinâmica intergeracional que é saudável para ambos. E depois saem em busca dos seus próprios interesses. Se boa parte da geração que hoje tem de 30 a 40 anos descobriu uma liberdade interessante via acesso a conteúdo no meio digital, nos parece que o mesmo vem acontecendo com maior intensidade para as pessoas que hoje têm mais de 60 anos.

Voltando ao capital social, o valor que a presença nas redes sociais digitais possibilita está no acesso a informações, no convívio (digital, mas ainda é convívio) com amigos e filhos e na participação maior na vida de pessoas queridas que no mundo turbulento em que vivemos se torna menos frequente sem a ajuda das redes sociais. Um amigo de um dos autores do post tem uma avó que sempre comenta os posts do neto, cheia de carinho e orgulho. Se ela leu Bourdieu não sabemos, mas que usa a rede para seu benefício, isso é prazerosamente evidente.

Benjamin Rosenthal & Felipe Arima

 

Fontes:

1 – http://www.secundados.com.br/2012/05/17/a-terceira-idade-na-internet-no-brasil-habitos-de-uso-e-consumo/

2 – Bailey e Ngwenyama (2011)

 

 

Amor (o filme) e o desrespeito com o idoso

A maior contribuição de Amor (o filme) é escancarar de forma realista a experiência da fase mais tardia (e difícil) do envelhecimento por meio do protagonismo de Georges e Anne, um casal de idosos que aparenta ter 80 e muitos anos, que passa pelo momento duríssimo em que um dos dois rapidamente perde parte das funções motoras e começa a fisicamente se degradar.

Não vou fazer muitos comentários sobre o roteiro como um todo pois não é meu objetivo aqui. Vou me ater a um único aspecto que me causou emoções fortes no filme e que, desde que começamos a planejar a GAGARIN, tem sido difícil de lidar ou de aceitar: o fato de que existe um profundo desrespeito para com o idoso amalgamado na nossa cultura.

A cena que me incomodou é simples: uma enfermeira mal preparada penteia os cabelos de Anne. Ela o faz de forma mecânica, lhe diz palavras supostamente agradáveis como “olha que linda que ficou…” e força Anne a olhar no espelho o resultado de seu trabalho. Anne se recusa bruscamente pois não quer se ver sendo (ao seu olhar) uma sombra do que já foi. A enfermeira não entende porque acaba sendo demitida por Georges. Sequer percebe o desrespeito em seu gesto mecânico de tratar um idoso com dificuldades físicas sérias como se ele fosse um tolo incapaz de perceber seu estado e facilmente ludibriado por palavras vazias.

O desrespeito com o idoso é visto todos os dias, por exemplo na forma de violência física dentro de casa ou de negligência no trânsito, onde há 3 vezes mais mortes por atropelamento de pessoas com mais de 60 anos do que ocorre com jovens entre 20 e 39 anos (Reichenheim, 2011). Minayo (2005) produziu um documento para o Observatório Nacional do Idoso no qual esmiúça o estado da violência contra o idoso no Brasil. De lá eu tiro uma frase de Norbert Elias que define bem uma das origens dessa violência vista no filme: “A fragilidade dos velhos é muitas vezes suficiente para separar os que envelhecem dos vivos. Sua decadência os isola… a separação em relação aos seres humanos em geral, tudo aquilo que lhes dava sentido e segurança.”

Ainda bem que Anne tinha George, que com sua personalidade forte diz à enfermeira: “espero que alguém um dia lhe trate com o mesmo desrespeito que você tratou Anne e que, como ela, você não possa se defender”. Espero que não. Espero que quando a jovem de 20 e poucos anos envelhecer, já na segunda metade desse século, nossa sociedade já tenha se livrado desse desrespeito nauseante.

Benjamin Rosenthal

 

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