Arquivos Mensais:março 2013

Age is a question of mind and matter: if you don’t mind, it doesn’t matter.

Aproveitei a frase dita pelo Richard Gere (interpretando o milionário Robert Miller), na cena de seu aniversário de 60 anos, no filme “A Negociação”, para escrever sobre a percepção que se tem de idade e envelhecimento.

As pesquisas existentes na área convergem para duas direções: a) velhos são os outros e; b) velhice se sente quando se passa por situações culturalmente relacionadas à velhice.

A primeira direção fala da velhice como um olhar sobre o outro. Velhos são os outros, quase nunca eu. Pesquisas mostram que a enorme maioria das pessoas ditas da terceira idade colocam os outros sim como velhos, nunca eles mesmos. Os mais velhos na verdade não se sentem “nem jovens, nem velhos”, se sentem quem eles são, na fase em que estão, podendo ser ela, inclusive, uma fase mais relacionada à velhice. A enorme maioria se sente muito bem.

Se você é jovem, tem entre 20 e 30 anos, faça um exercício e se questione: você anda por aí pensando “nossa, como estou me sentindo jovem hoje”. Provavelmente não. Você se sente como você se sente. Simples assim.

E porque pessoas que têm 65, 70 ou 75 anos acreditam que os outros é que são velhos? Em parte porque elas vivem na mesma cultura gerontofóbica que todos nós vivemos. Gerontofobia é o medo do velho, de envelhecer, de conviver com velhos (Gullette, 2004, p. 30). Boa parte das culturas ocidentais abomina o que parece velho e hipervaloriza o que parece novo. Não entro em detalhes sobre isso aqui por questão de foco, mas é assim que é. Essa cultura gerontofóbica faz com que mesmo uma pessoa de 70 anos acredite que os outros, mais velhos que ele, é que são os velhos, em um julgamento também preconceituoso.

A segunda situação em que a pessoa se sente velha é relacionada a experiências internas com o mundo externo. Quando se recebe um tratamento “melhor idade” supostamente simpático, quando se cai e se perde a liberdade de ir e vir, quando se adoece, quando se percebe no olhar do outro que ele acredita que você é velho e ultrapassado. Ou seja, quando o mundo externo vem e te joga na cara que você é velho, seja na subjetividade de um sorriso forçado, ou na objetividade de um escorregão numa noite chuvosa.

Pense nisso quando se dirigir aos mais velhos. Trate-o com respeito, jamais como um imbecil infantilizado. Essa percepção está somente na sua cabeça mas importa um bocado na forma como ele se sente.

Benjamin Rosenthal

Se a BR Foods e o Itau não quiserem, eu quero!

Executivo de primeiríssima linha. Experiente. Track record irreparável. Liderou a construção do maior banco privado do pais. Histórico de resultados financeiros extraordinários e crescentes. Que empresa abriria mão desse valor? A resposta é chocante. Uma boa parte das empresas tem feito isso. Hoje aos 59 anos, Roberto Setúbal acaba de promover uma mudança nos estatutos de governança corporativa do Itau estendendo a idade para aposentadoria compulsória do presidente de 60 para 62 anos. Os acionistas agradecem.

Esse é um caso emblemático, mas infelizmente está longe de ser único. Aliás, a exclusão dos maduros no ambiente corporativo é muito mais forte do que constam dos manuais e regras de RH. Na maioria dos casos não está escrita em lugar nenhum mas está cravada no senso comum das empresas. Em algumas áreas ter mais do que 35 anos de idade já transformam uma pessoa num dinossauro, alguém incapacitado para lidar com o mundo contemporâneo. Será?

Pode até ser que em determinadas áreas, como o marketing digital, um jovem de 25 anos tenha muito mais traquejo do que um quarentão. Afinal, cresceu nesse ambiente. Pode ser, mas o fato de permanecer 15 horas por dia no Twitter ou no Facebook não torna ninguém um gênio da computação. Então, devagar com o andor. Para responder a esse ponto, vou recorrer ao incensado Steve Jobs, sempre e ainda ele. Qual Jobs você prefere? Aquele escorraçado da empresa que fundou aos 30 anos ou o que retornou aos 50 anos, para resgatar a Apple da falência e leva-la ao topo em valor de mercado?

Trato desses exemplos por uma razão muito simples. O aumento da longevidade combinado a brusca redução da taxa de natalidade no Brasil trará efeitos que irão muito além da inversão da pirâmide etária do país nas próximas décadas. Muitos outros conceitos terão de ser virados de cabeça para baixo – a aposentadoria precoce de talentos é um dos casos mais flagrantes é um deles.

Nesse momento de pleno emprego e de boom de obras de infraestrutura, é muito interessante ver empresas recontratando a peso de ouro engenheiros, físicos, administradores, muitos dos quais haviam sido dispensados pelo critério de idade.

Para nós da Gagarin é um bálsamo ver o vigor com que o empresário Abílio Diniz aos 76 anos se lança em seu novo desafio de brigar pela presidência do Conselho da BR Foods. Nada de aposentadoria para ele, que já havia resgatado o Pão de Açúcar de sua maior crise no final dos anos 80 (quando já tinha mais de 50, diga-se de passagem) para construir a maior empresa do varejo brasileiro. Pois sim, é verdade que tem muito jovem de 25 anos que sonha em montar uma startup, vender, ficar milionário e viver o resto da vida na farra. Mas também há muitos caras com 50, 60, 70, 80, que já até passaram do bilhão mas continuam na luta. Que esses exemplos inspirem mudanças.

Roni Ribeiro

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