Arquivos Mensais:agosto 2013

A Real Beleza Madura

É bom ver marcas trabalhando na direção correta. Muitas vezes quem é da área aponta mais as falhas, critica e mostra seus pontos de discórdia e, de vez em quando, fala de elementos positivos, em geral aqueles dificilmente questionáveis.

Nesse post eu falarei sobre a campanha Real Beleza, de Dove, e sua relação com a forma adequada pela qual marcas nesse universo devem pensar a beleza na maturidade.

Nas nossas conversas com mulheres de 50 a 80 anos realizadas nos últimos 2 anos notamos que o conceito que elas têm delas mesmas hoje em dia supera em importância qualquer desejo por uma identidade imaginada, futura ou idealizada, aquilo que em psicologia alguns denominam ideal self.

Dove fala dessa forma. Sua campanha Real Beleza busca um dialogo com a imagem atual, a “real”, que a mulher tem dela mesma e foge da armadilha de dialogar com uma mulher futura, embelezada de alguma forma por centenas de cosméticos e tratamentos que a indústria a beleza oferece.

Note, a indústria de cosméticos não está sendo posta sob critica nesse post. Eu acredito no seu papel na sociedade. Beleza melhora a auto estima e, se não perseguida de forma imponderada, têm seu papel na sociedade. “Beleza é uma promessa de felicidade” colocou Nietzsche. “Beleza é uma forma de genialidade”  foi além o Oscar Wilde. Sem esquecer o tamanho dessa indústria e a importância crescente do mercado brasileiro, em vias de ultrapassar o japonês e se tornar o 2o do mundo.

A indústria da beleza precisa produzir e vender soluções e, de certa forma, sonhos. Rostos envelhecem, sua hidratação diminui, as rugas se tornam mais profundas, manchas se acentuam, entre inúmeras outras conseqüências do passar do tempo que as mulheres preferem evitar ou adiar. Mas a escolha de que tom adotar, que consumidora retratar como protagonista, essa é uma escolha da indústria.

A real beleza dos maduros não nos parece passar pelo sonho (elemento dos mais jovens), mas sim pela beleza que se tem, com a idade e com a vida que se tem – hoje, seja ela uma beleza interna ou externa. Dove não deve ter pensado, no início dos anos 2000, que sua campanha dialogaria tanto com o público maduro e, se pensou, foi de fato um grande insight. Mas o fato é que sua abordagem, questionada muitas vezes, nos parece benchmark. Se fossemos pensar em posicionamento de marcas nesse universo hoje, esse seria o ponto de partida – o de chegada fica para cada um descobrir.

Benjamin Rosenthal

O que é mesmo um idoso?

Me agradam as discussões que relativizam criticamente um conceito. Trato aqui de uma relativização do conceito de idoso. É claro que o conceito é importante, mas não creio que seja absoluto. Explico aqui o que observação, estudo, pesquisa e reflexão sobre o tema começam a formar em mim, mas que obviamente tenho a humildade de jamais concluir. Comentários são muito bem vindos.

Pensar em termos de geração e categorizar alguém como idoso é importante se houver claras distinções entre as gerações pensadas. Assim, uma juventude e uma velhice imaginadas e construídas podem servir para distinguir juventudes e velhices reais. As características de cada grupo se apresentam e os grupos ganham os contornos que os definem. Isso é necessário e me incomoda bastante quando vejo tintas “rejuvenecedoras” em idosos, um retrato que os distorce, lhes aplicando papéis e valores de gerações mais jovens e que por isso, na minha concepção, os desrespeita, ainda que involuntariamente. Há bastante literatura em gerontologia que fala sobre esse tema, denominado positive ageism (Palmore, 1999).

Pensar em termos de gerações é pensar em termos escalares (por exemplo a idade adulta se encerrando aos 59 anos (64 anos em algumas culturas) para então se iniciar a terceira idade e assim por diante). Ora, vivências não obedecem o passar dos anos. Quando se pensa em termos de indivíduos cada um vive a vida de uma forma e por isso o conceito de idade biológica pode e deve ser relativizado em seu poder explicativo. Aqui vale citar Simone de Beuvoir em The Coming of Age: “So long as the inner feeling of youth remains alive, it is the objective truth of age that seems fallacious”.

Já quando se pensa em termos de grupos, a idade biológica pode servir bem para explicar porque determinado grupo é mais conservador, menos afeito a determinados comportamentos e detentor de determinados valores em comum. Possivelmente no nível do grupo sim a idade se impõe como força moldadora, ainda que nunca de forma categórica como retratos de perfis geracionais podem sugerir.

E quando se pensa em termos de sociedade, aí sim. Governos têm que pensar para uma terceira idade imaginada e de alguma forma definida em pesquisas: programas de saúde, previdência, transporte, segurança, direitos, cidades, impostos, educação, tudo isso precisa de um alvo e a terceira e a quarta idade são alvos fundamentais.

Assim, diminuo meu incômodo com a conclusão de que o idoso é um grupo, não necessariamente um indivíduo. Esse pode ser novo aos 80 ou velho aos 20, de fato dependendo de quem ele quer ser e de quem ele se torna. Sou membro de um grupo de nadadores e nela há um senhor de quase 80 anos que recentemente atravessou o canal da mancha. Ainda preciso envelhecer muito para chegar nesse nível…

Benjamin Rosenthal

 

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