A Bela Velhice
Postado em 07 de out de 2013
Como é bom ler um livro curto e rico. Quem navega com frequência pela produção de conhecimento nem sempre se depara com a objetividade. Mirian Goldenberg consegue isso em seu ótimo A Bela Velhice. Li em uma sentada de 1 hora e meia.
O livro dialoga com a obra de Simone de Beauvoir e descreve formas de envelhecer bem, assim como percepções que os mais velhos têm acerca do envelhecimento. O objetivo da autora é contribuir para transformar a imagem negativa que paira sobre o envelhecimento.
Um ponto chave do livro é sua distinção entre projetos de homens e mulheres com mais de 60 anos. Os dados de Mirian mostram que homens querem trabalhar, querem a presença da família, tem muito medo de solidão, do desamparo. Mulheres, por sua vez, querem liberdade, algo que elas inclusive invejam nos homens. Liberdade significa fazer o que se quer, algo que é despertado pela mudança de papéis profissionais, familiares, pela separação, pela viuvez, entre outras mudanças contextuais na vida.
Os dados que possuímos na Gagarin vão de encontro ao que Mirian coloca, com algumas distinções importantes. Não vemos nos homens um envelhecimento com a qualidade desse que as mulheres possuem. Elas saem mais, se cuidam mais, são mais sociáveis, continuam a possuir papéis relevantes em seu cotidiano. Nos homens encontramos extremos: de um lado pessoas como as que Mirian entrevistou, cheias de vida, projetos, renovando-se no terceiro ato da vida. Mas há muitos homens de terceira idade deprimidos, tristes em não se encontrar novamente, sozinhos. Eles nunca (ou pouco) falam disso, mas suas esposas falam sobre eles dessa forma.
Sobre os novos projetos Mirian usa uma abordagem identitária de Simone de Beauvoir – somente projetos conectados com quem somos trarão frutos e darão sentido à velhice de cada um. Conversamos com muitas pessoas que seguiram caminhos atrelados a desejos pessoais e se tornaram felizes, até mais do que antes foram em suas vidas. Mas também encontramos pessoas com satisfação em apenas seguir sendo quem são, trabalhando com construção, vendendo, cozinhando, passando, lavando, conversando com os amigos, etc. A felicidade na terceira idade parece fruto de pequenas coisas que permanecem conectando o indivíduo à sociedade, integrando-o a seu círculo próximo de pessoas. Não são necessários grandes projetos individuais, ainda que isso possa existir e de fato trazer satisfação plena em se viver.
Um ponto alto do livro é a descrição de como o abandono da obrigação de ser (jovialmente) bela, sexualmente ativa e corresponder a anseios de parceiros faz com que muitas mulheres se libertem e se joguem em direção ao que de fato gostam na vida. Mulheres que se permitem mostrar seus corpos como são e que não carregam mais a culpa de não ser esteticamente o que imaginam que os outros desejariam que fossem – essas sim passam a ser felizes e bem resolvidas.
É um livro recomendadíssimo para interessados no bom envelhecimento.
Benjamin Rosenthal
Para quem tem mais de 65 anos
Ivone Boechat (autora)
1 – Tome posse da maturidade. A longevidade é uma bênção! Comemore! Ser maduro é um privilégio; é a última etapa da sua vida e se você acha que não soube viver as outras, não perca tempo, viva muito bem esta. Não fique falando toda hora: “estou velho”. Velho é coisa enguiçada. Idade não é pretexto para ninguém ficar velho. Engane a você mesmo sobre a sua idade, porque os psicólogos dizem que se vive de acordo com a idade declarada!
2 – Perdoe a você antes de perdoar os outros. Se você falhou, pediu perdão? Deus já o perdoou e não se lembra mais. Mas você fica remoendo o passado… Não se importe com o julgamento dos outros. Só há dois times no Universo: o do Salvador e o do acusador. Neste último você sabe quem é goleiro. Continue no time do Salvador.
3 – Viva com inteligência todo o seu tempo. Viva a sua vida, não a do seu marido, dos filhos, dos netos, dos parentes, dos vizinhos… Nem viva só pra eles, viva pra você também. Isto se chama amor próprio, aquilo que você sacrificou sempre! Nunca viva em função dos outros. Faça o seu projeto de vida!
4 – Coma muito menos; durma o suficiente; não fique o dia inteiro, dormindo, dando desculpa de velhice. Tenha disciplina. Fale com muita sabedoria. Discipline sua voz: nem metálica, nem baixinha; seja agradável!
5 – Poupe seus familiares e amigos das memórias do passado. Valorize o que foi bom. Experiências caóticas, traumas, fobias, neuroses, devem ser tratadas com o psicoterapeuta. Não transforme poltrona em divã, ouvido em descarga.
6 – Não aborreça ninguém com o relatório das suas viagens. Elas são interessantes só pra quem viaja. Ninguém aguenta ouvir os relatórios e ver fotografias horas e horas. Comente apenas o destino e a duração da viagem, se alguém perguntar. Aprenda a fazer uma síntese de tudo, a não ser que seus amigos peçam mais detalhes. Se alguém perguntar mais alguma coisa, seja breve.
7 – Escolha bons médicos. Não se automedique. Não há nada mais irritante do que um idoso metido a receitar remédio pra tudo o que o outro sente. Faça uma faxina na sua farmácia doméstica.
8 – Não arrisque cirurgias plásticas rejuvenescedoras. Elas têm prazo curto de duração. A chance de você ficar mais feio é altíssima e a de ficar mais jovem é fugaz. Faça exercícios faciais. Socorra os músculos da sua face. Tome no mínimo oito copos de água por dia e o sol da manhã é indispensável. O crime não compensa, mas o creme compensa!
9 – Use seu dinheiro com critério. Gaste em coisas importantes e evite economizar tanto com você. Tudo o que se economizar com você será para quem? No dia em que você morrer, vai ser uma feira de Caruaru na sua casa. Vão carregar tudo. Não darão valor a nada daquilo que você valorizou tanto: enfeites, penduricalhos, livros antigos, roupas usadas, bijuterias cafonas, ouro velho… prataria preta, troféus encardidos, placas de homenagens. Por que não doar as roupas, abrir um brechó ou vender todas as suas bugigangas, apurar um bom dinheiro e viajar?
10 – A maturidade não lhe dá o direito de ser mal educado. Nada de encher o prato na casa dos outros ou no self-service (com os outros pagando); falar de boca cheia, ou palitar os dentes na mesa de refeições (insuportável).
11 – Só masque chiclete sem testemunhas. Não corra o risco de acharem que você já está ruminando ou falando sozinho.
12 – Aposentadoria não significa ociosidade. Você deve arranjar alguma ocupação interessante e que lhe dê prazer. Trabalhar traz muitas vantagens para a saúde mental, além do dinheiro extra para gastar, também com você.
13 – Cuidado com a nostalgia e o otimismo. Pessoas amargas e tristes são chatíssimas, as alegres demais, também. Elogie os amigos, não fique exigindo explicações de tudo. Amigo é amigo.
14 – Leia. Ainda há tempo para gostar de aprender. A maturidade pode lhe trazer sabedoria. Coloque-se no grupo sempre pronto para aprender. Não se apresente em lugar nenhum dizendo: sou muito experiente!
15 – Não acredite nas pessoas que dizem que não tem nada demais o idoso usar roupas de jovens, cuidado. Vista-se bem, mas com discrição. Cuidado com a maquiagem, se for pesada, você vai ficar horrível.
16 – Seja avó do seus netos, não a mãe nem a babá. Por isso nem pense em educá-los ou comprometer todo o seu tempo com as tarefas chatas de ir buscar na escola, levar a festinhas, natação, inglês, vôlei… Só nas emergências. Cuidado com aquela disponibilidade que torna os outros irresponsáveis.
17 – Se alguém perguntar como vão seus netos, não precisa contar tuuuuuuuudo! Evite discorrer sobre a beleza rara e a inteligência excepcional deles. Cuidado com a idolatria de neto e o abandono dos filhos casados…
18 – Não seja uma sogra chata. Nunca peça relatório de nada. Seu filho tem a família dele. Você agora é parente! Nunca, nunca, nunca mesmo, visite seus filhos sem que seja convidado. Se o filho ligar pra você, não diga: ah! lembrou finalmente da sua mãe? É melhor dizer: Deus o abençoe meu filho.
19 – Cuidado em atender ao telefone: se a pessoa perguntar como você vai e você responder “estou levando a vida como Deus quer”; “a vida é dura”; “estou preparando a partida”; “estou vencendo a dureza”; você vai ver que as ligações dos amigos e dos parentes vão rarear, cada vez mais.
20 – A maturidade é o auge da vida, porque você tem idade, juízo, experiência, tempo e capacidade para se relacionar melhor com as pessoas. Então delete do seu computador mental o vírus da inveja, do orgulho, da vaidade, promiscuidades, cobranças, coisas pequenas e frustrantes para tomar posse de tudo o que você sempre sonhou: a felicidade.
Extraído do livro Educação-a força mágica de Ivone Boechat