A memória falha, mas a história se aperfeiçoa…
Postado em 17 de set de 2013
A técnica narrativa em entrevista consiste, muito grosso modo, em estimular o entrevistado a narrar fatos de sua vida (por exemplo) com o máximo de detalhes possível, no tema de interesse do projeto. Narrativas contém muito mais conteúdo simbólico e emocional do que racional por espaço de texto do que entrevistas factuais. Para isso um dos papéis do entrevistador é estimular o detalhamento desses fatos, buscar os “significados êmicos” (de cada um, na sua própria perspectiva).
Quando se envelhece a memória se modifica e nossa reconstrução dos fatos é cada vez mais uma reconstrução da reconstrução da reconstrução da reconstrução…
Isso a torna “pouco confiável”? Muito pelo contrário. Narrativas são construídas na interação entre quem conta e quem escuta e a vontade de contar bem como a disponibilidade para ouvir fazem com que a construção (conjunta) de histórias seja parte importante do método. Pessoas maduras amam falar, ainda mais quando alguém está honestamente disposto a ouvir. Eles não foram tomados pelo desejo constante de “imergir online” típico dos atuais adolescentes.
A riqueza das histórias está menos está na veracidade do fato e mais naquilo que o que se conta revela sobre quem conta, afinal o que importa, ao fim e ao cabo, é a nossa subjetividade. Que histórias escolheu, que enredo empregou, quem são os atores, qual é o desfecho, o que aquilo significa são algumas das perguntas.
“A subjetividade nem sempre toma um caminho egocêntrico” (Frank e Vanderburgh, 1986). De fato a cada vez que o tema “respeito social” (ou a falta de) surge em conversas com maduros, em ocasiões em que esse desrespeito se materializou ou mesmo nas quais o respeito foi percebido, o que eu vejo não é um indivíduo que traz da memória uma ocasião que pode ou não ter sido daquela forma (e isso importa?). O que eu vejo é um grupo pedindo com urgência: “eu cheguei até aqui e mereço um tratamento decente”.
Benjamin Rosenthal