Bernarda e Lutero: invejei…

Postado em 23 de out de 2013

Obviamente repercutiu nas redes sociais a cena de sexo entre Bernarda e Lutero, personagens de Amor à Vida que têm entre 70 e 80 anos de idade. Uma amiga logo me enviou alguns tweets com comentários sobre as cenas. Separei alguns aqui que refletem a tensão que tradicionalmente o tema gera. Omito os autores e modifico um pouco o texto por questões éticas:

você nota que sua vida sexual está meio parada quando até os tiozinhos tiraram o atraso

ai vó, para com isso…

os velhinhos tão trepando e a gente vendo novela! Invejei!

Lindos! #Bernarda & #Lutero. Amoravida

Será que vem patrulha? Amor na #melhoridade. Fora #preconceito.

Adorei a vovó modernete. Essa é das minhas!

Novelas são uma representação importante dos valores de uma sociedade. Autores de novela, fora todo o trabalho de pesquisa sobre um tema, têm um faro nato para entender as contradições inerentes à avaliação que diferentes grupos fazem do sexo na 4a idade e o potencial que isso pode trazer em termos de ibope, dada a crescente importância econômico-cultural desse público.

Em um estudo publicado no Journal of Aging Studies, Katz e Mall já falavam sobre as transformações que o “novo velho” passava no campo sexual. Corpos turbinados por milagres farmacêuticos se potencializam como atores sexuais. Ao mesmo tempo toda uma ética contemporânea passa a exigir dos velhos que “se mantenham ativos” e da-lhe sexualidade na vida dos mais experientes. Mais que o desejo (que para muitos idosos existe, é claro) entra também a obrigação ou a pressão em não ficar para trás, não envelhecer, não perder algo que possuíram. Sexo é ótimo, pressão cultural para curti-lo, não.

Até os anos 50 a diminuição da vida sexual era considerada algo “natural”, um efeito da passagem do tempo, preenchido de conotação negativa, mas algo a ser aceito. A partir dos anos 90 a perda do sexo na 3a idade passou a ser uma decisão de cada um, e uma decisão preenchida de benefícios (na sua presença) e de malefícios (na sua ausência). Que se faça sexo na 4a idade não é surpreendente, é natural. O que surpreende é a própria surpresa.

É ainda curioso observar o jogo de aprovação / desaprovação que se estabelece nas expressões dos espectadores. São julgamentos morais que espelham a visão que os mais jovens têm dos mais velhos – uma visão em clara transformação.

Eu também invejei o casal…

Benjamin Rosenthal