O narcisismo e os maduros nas Redes Sociais

Postado em 03 de jun de 2014

O Facebook tem 1.2 bilhões de usuários. O Instagram possui 200 milhões. Numa perspectiva individual, trazida da psicologia social, duas grandes motivações para as pessoas usarem as redes são: a) se conectar; b) se expressar / se apresentar ao mundo1. Nessa perspectiva, quando se fala em “se apresentar ao mundo” o narcisismo é uma das grandes motivações individuais e contextualizadas em uma cultura que valoriza a estética, o corpo e os laços com pessoas atraentes e bem sucedidas.

Curiosamente, uma das observações que faço do comportamento dos mais velhos nas Redes Sociais é que são comportamentos menos narcísicos. É comum (mas obviamente há diversidade e variância nesse mundo das redes) pessoas mais velhas se gabarem menos dos seus feitos, conhecimentos, relacionamentos, hábitos sociais e de consumo. Há inclusive juízo de valor aqui – os mais velhos observam esses comportamentos de super exposição dos mais novos com ressalvas. Frases como “eu não gosto de me expor” e “eu não gosto de me exibir” fazem parte do leque de explicações que dão para sua maior reserva nas redes sociais. Certamente não são as únicas explicações.

Os mais jovens tendem a comportamentos mais narcisistas, expõem suas vidas, de forma aberta e agigantada (vide comportamentos como os selfies no Facebook e os diários “mundo de Caras” no Instagram). As exceções entre os mais velhos se tornam até conhecidas justamente pelo caráter inédito e surpreendente. Figuras como a Grandma Betty ficaram populares nas redes sociais, não somente por serem admiráveis mas também por serem diferentes.

Os mais velhos também tendem a não se engajar em comportamentos agressivos, outra característica comum das pessoas com comportamento narcísico. O comportamento de agressão nos narcisos é entendido como uma forma de defesa, de proteção de sua auto imagem, em geral agigantada e difícil de sustentar. Os mais velhos parecem buscar muito mais a inserção do que o destaque. Destaque serve mais em cenários competitivos, algo que os mais velhos abandonaram ou reduziram em algum momento na sua trajetória.

O fenômeno Grandma Betty pode ser entendido, portanto, como uma vitrine, na perspectiva de quem observa e um chamado de inclusão, na perspectiva de quem posta. Não é tanto pelos 15 minutos de fama, é mais por 15 minutos de contato e conexão.

Benjamin Rosenthal

Fontes:

1 – Nadkarni, A., Hoffman, S. G. (2012). Why do people use Facebook? Personality and Individual Differences, 52, 243-249.